segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Vizinhança

Ouço aquele barulho e fico aterrorizada. Chego num cantinho da janela da minha sala, luzes apagadas, e espio a janela do prédio ao lado. Um homem desfere golpes no ar. Sua silhueta macabra lembra a sombra do Nosferatu. Seu braço pesado, que deve segurar um machadinho ensanguentado, despenca, bate com força, e o barulho escorre sinistro pelo ar.

O som é até discreto. Noutras noites, eu ficava vigiando o matagal do morro aqui atrás. Lá no alto, escondidos, moram os índios do mato. De dia, eles costumam descer o morro sorrateiramente para cumprir seus afazeres. Muito suspeito. À noite, só podia, estariam ceifando o mato. Construiriram um barraco camuflado.

Hoje descubro meu engano. O barulho vem do prédio ao lado. Ninguém percebe, só eu, que ali mora um maníaco açougueiro. Ele arrasta corpos até sua cozinha e -- valha-me Deus! -- os esquarteja.

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