quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ele é carioca

São dias de quase-inverno no Rio. Não sabemos por quanto tempo, nem em que intensidade; por isso colocamos nossos sobretudos, nossas botas, nossos casacos de couro.

Eu me lembro de um dia de verão. Eu acreditava que, para ser carioca, era preciso gostar de suar, mas fui pega de surpresa num elevador. O calor me deixava dispersa e com nervoso de sentir minha própria pele tocando nas roupas. Descompostura era o meu nome. Até olhar para a esquerda e ter uma visão delirante: um senhor impecável no seu terno de linho branco, chapéu panamá a coroar sua cabeça. Era mulato, magro, grisalho; todas as suas feições transpiravam dignidade, humildade, orgulho.

Uma senhora perguntou-lhe: você não sente calor? O homem não quis nos humilhar tanto, e por isso falou discreto: eu não estou sentindo calor.

Na rua, o termômetro marcava dezenas de graus celsius.

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Mas, no último verão, também havia o homem que não se cansava. Era um japonês, professor de kendo. Com suas poucas e zangadas palavras, incompreensíveis, somadas à expressão samuraica de seu rosto, foi que eu aprendi que é possível manter uma postura impecável mesmo após três horas de treino de luta.